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Cursos em libras e legendados: startup de SC capacita surdos para o mercado

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02/06/2019 04h00

A falta de acessibilidade assombra cerca de mais de 9,7 milhões de brasileiros com deficiência auditiva. Um deles é o pai de Fabíola Borba, que para não precisar dizer que não sabia ler para sua futura mulher, quebrou a caneta quando ela, para tentar puxar assunto, entregou a ele um bilhete para ser respondido.

E não é somente ele que não sabe ler. Uma parcela significativa dos deficientes auditivos no Brasil e no mundo não são alfabetizados na língua de seu próprio país, porque a língua que eles aprendem é a de sinais

"A comunidade surda tem uma cultura própria. Algumas pessoas não sabem, mas a língua de sinais não é só uma soletração de palavras. Ela é uma língua completa, como qualquer outra. É uma língua que se usa de espaço visual. É uma língua que se usa de gestos e sinais, mas só gestos e sinais não são suficientes. Expressões corporais e faciais podem mudar facilmente o sentido de uma frase", explica Fabíola Borba em palestra para TEDxFloripa.

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Fabíola sempre trabalhou com empreendedorismo e dando suporte para negócios, mas tinha vontade de trabalhar com educação. Foi participando do Startup Weekend 2015, em Florianópolis, que Fabíola conheceu uma equipe motivada em trabalhar para melhorar a acessibilidade para surdos. Com esse objetivo em mente, a equipe participou de um evento e desenvolveu a solução favorita dos participantes.

Em palestra para o TEDxFloripa, a empreendedora explicou que os surdos têm quatro opções de aprendizado: livros, curso presencial, família e amigos, cursos online. Entretanto, como vão ler se não são alfabetizados? Como vão participar de um curso presencial se não têm um intérprete para a língua de sinais? O mesmo ocorre com cursos online. Além disso, se pedida a ajuda de família e amigos, pode ser que não recebam todas as informações, ou entendam algo errado, pois familiares e amigos não são preparados para fazer a tradução adequada.

Essas questões levaram Fabíola e equipe a terem a ideia de criar a Signa. A startup de Florianópolis (SC) disponibiliza à comunidade surda cursos online produzidos em libras e legendados, para que a audiência seja melhor preparada para o mercado de trabalho.

A plataforma conta com cursos de diversos temas, desde matemática e português até língua estrangeira (inglês) e aplicativos do Adobe. Além disso, a Signa informa surdos sobre questões práticas que não necessariamente são explicadas na linguagem correta por outras fontes, como dicas de FGTS e cartões de crédito.

"Estamos levando educação e capacitação profissional para um mercado que é esquecido e consequentemente também ajudando às empresas a terem surdos capacitados para suas vagas de trabalho", conta Fabíola Borba, CEO e cofundadora da Signa.

A startup ainda não atua diretamente fazendo ponte com as empresas para a contratação de deficientes auditivos. Entretanto, segundo Fabíola, será o próximo passo.

A cofundadora acredita que "há sim uma abertura maior para a contratação de surdos e deficientes auditivos, até mesmo uma certa fascinação pelas libras, uma língua ainda pouco conhecida mas muito admirada".

"Mesmo assim, percebo que as empresas têm uma certa resistência em investir na capacitação real de pessoas da equipe para poder se comunicar de fato em libras. A capacitação ainda está em um nível muito básico. Louvável ter ela pelo menos, é claro, mas precisamos avançar", afirmou.

Prêmio Next Billion EdTech

O projeto nacional ganhou destaque no Prêmio Next Billion EdTech, realizado no final de março de 2019 em Dubai, nos Emirados Árabes. A startup brasileira conseguiu ser uma das seis finalistas. Este prêmio tem o intuito de conhecer jovens empreendedores com ideias tecnológicas revolucionárias que ajudam a elevar a educação de países de baixa renda e emergentes.

"O Prêmio Next Billion destaca o potencial da tecnologia em resolver problemas que se mostraram difíceis demais para sucessivas gerações de políticos. O poder de mudar os sistemas educacionais em todos os níveis não está mais exclusivamente nas mãos da elite política e empresarial. Os autores da mudança podem ser aqueles que trabalham longe dos holofotes, em startups localizadas em todo o mundo", explicou Sunny Varkey, fundador do Prêmio Next Billion.

São selecionadas 30 startups do mundo todo para participar de uma fase final que reúne mais de 1.500 representantes para resolver os problemas mais emergentes da educação global. Os três primeiros lugares recebem US$ 25 mil. Além disso, há também o Prêmio Global Teacher, de melhor professor do mundo. Este ganha US$ 1 milhão.

Entre as finalistas de 2019 estavam: Talk2U, OxEd, Whetu, Signa, SimBi, Moi Social Learning, Kuwala, Etudesk, PraxiLabs, Langbot, Seppo, Lesson App, Eneza, Aveti Learning Pvt. Ltd., Utter, Dost, Solve Education, M-Shule, eLimu, Wizenoze Ltd, ScholarX, Sabaq, Silabuz, Zelda, MTabe, Ubongo, Fineazy, TeachPitch, Big Picture Learning/Imblaze, e  Augmented Learning.

Ubongo

A grande vencedora da noite foi a startup tanzaniana Ubongo. O seu projeto é usar de entretenimento para proporcionar aprendizado eficaz para às crianças de baixa renda na África.

Chamada de "Ubongo Kids" a criação está disponível em quatro línguas e ensina ciências e matemática através de desenhos animados para crianças de 9 a 14 anos. A plataforma é disponibilizada em tecnologias acessíveis como os meios de comunicação de massa e os dispositivos móveis.

"Estamos muito felizes por termos ganho o Prêmio Next Billion. Já estamos tendo um impacto nas crianças, mas esse reconhecimento significa que podemos fazer muito mais. Até 2022, planejamos atingir 30 milhões de crianças na África e nossa meta final é atingir 440 milhões – todas as crianças na África", disse o diretor de negócios da Ubongo, Doreen Kessy. O projeto atinge hoje cerca de 11 milhões de famílias no território africano.

Além do Ubongo, as startups  PraxiLabs, do Egito, e Dost  Education, da Índia, também foram vencedoras do prêmio.

Sobre o Blog

Soluções para uma vida cada vez mais complicada. É isso que jovens empresas da tecnologia buscam, mas nem todas conseguem "mudar o mundo" como prometem. Este espaço do Tilt é para contar essas novidades e também alguns fracassos que nos ensinam a seguir e melhorar.